Apesar das fortes chuvas que atingiram Goiás em fevereiro, ao menos 22 municípios sofrem com precipitação bem abaixo do previsto pelo Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo). O cenário é visto como preocupante, pois o período de seca se aproxima, e a expectativa é que as chuvas demorem mais a voltar devido ao fenômeno El Niño, que deve retornar em 2023. A partir de março, a previsão é que as chuvas comecem a perder intensidade, o que deve se acentuar a partir de abril.
Conforme o Monitor de Secas, que acompanha a problemática climática em 24 das 27 unidades federativas, a maior parte do estado registra seca, especialmente na região Centro-Sul. A tendência é que a situação permaneça assim, ainda mais diante da falta de chuvas que caem em pouco volume, mas em maior quantidade de dias. “As chuvas estão se comportando em forma de tempestade. Não é uma chuva de qualidade”, afirma André Amorim, gerente do Cimehgo.
O meteorologista aponta que a tendência para Goiás, assim como todo o restante do País, é permanecer em um cenário mais seco. “Nos últimos 10 anos, até um pouco mais, verificamos uma diminuição no volume da chuva. Quando é período chuvoso, não chove corretamente. Então, na seca sofre mais”, aponta.
Dentre os municípios registrados pelo órgão estadual o que mais sofreu com a falta de volume de chuva em fevereiro foi Posse, no Nordeste goiano. Dos 192 milímetros (mm) esperados, foram apenas 69 mm, o que representa 35,94%. Somam à lista de média abaixo do esperado para o mês os municípios de Aragarças, Aruanã, Caldas Novas, Catalão, Ceres, Cidade Oriental, Cristalina, Edéia, Flores de Goiás, Formosa, Goiás, Iporá, Luziânia, Matrinchã, Monte Alegre de Goiás, Morrinhos, Novo Gama, Pirenópolis, Porangatu, São Domingos e Silvânia.
Por outro lado, outros 10 municípios sofrem com volume de chuva acima da previsão para fevereiro. A situação ocorre principalmente em Rio Verde e Jataí, na região Sudoeste, que tiveram pancadas de chuva em um curto período de tempo, registrando o maior valor registrado nos últimos dez anos. Só Rio Verde recebeu 384 mm, sendo o aguardado de 211 mm, o que representa aumento de 81,99%. No dia 26, o dia com maior volume do mês, foram 51 mm. Já Jataí, que tinha previsão de 236 mm, recebeu 293 mm de chuva, alta de 24,15%.
O cenário se repete em Anápolis, que recebeu 286 mm em fevereiro, ante os 233 mm esperados. O número aponta aumento de 22,75%. A chuva em formato de tempestade que atingiu o município no dia 12 de fevereiro inundou ruas, deixou pessoas ilhadas e arrastou carros e motos. Uma ponte chegou a desabar entre o Setor Flamboyant e Bairro de Lourdes. À época, choveu em 2 horas o que era previsto para três dias, o que tem sido vivenciado em outros municípios, como Águas Lindas, Cachoeira Alta, Ipameri, Mineiros, Pires do Rio, São Miguel do Araguaia e São Simão. As cidades do interior goiano englobam a lista daquelas com chuva acima da média esperada para fevereiro.
O problema de formação de tempestades também tem sido visto em Goiânia, como no último dia 21, quando grande volume de chuva em pouco tempo inundou a região do Zoológico, no Setor Oeste, fazendo com que os pedalinhos do Lago das Rosas fossem levados pela enxurrada até a Avenida Anhanguera. A capital goiana, no entanto, ficou com a precipitação mensal dentro da média do Cimehgo. Para André, mesmo com estragos advindos de tempestades, foi boa a quantidade de chuva para Goiânia.
Estiagem maior
Mesmo com as grandes quantidades de chuva que caíram em ao menos 10 municípios, o período de estiagem deve ser mais prolongado neste ano, analisa o gerente do Cimehgo, André Amorim. Rio Verde, por exemplo, que teve a maior média para o mês de fevereiro, tem baixa previsão para chover em março, quando se inicia a época de seca no Cerrado goiano.
Segundo o meteorologista, este cenário de alternância tem sido causado principalmente pelo fenômeno climático La Ninã, que causa chuvas irregulares e concentradas, além da seca. E, agora que o fenômeno começa a perder intensidade, o período de estiagem se aproxima. Com a expectativa do retorno do fenômeno El Ninõ, a seca deve ser mais intensa e duradoura. “A chuva deve parar mais cedo e voltar mais tarde”, resume.
Fonte: O Popular