Mais de 100 entidades da sociedade civil organizada e de movimentos sociais assinaram uma nota de repúdio contra uma ação da Polícia Militar que terminou com quatro mortes em Cavalcante, no nordeste de Goiás.
A corporação informou que o grupo era suspeito de tráfico de drogas. A Polícia Civil investiga o caso e disse que os quatro não tinham antecedentes criminais.
A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar solicitando um posicionamento por meio de e-mail enviado às 16h40 desta quarta-feira (26), mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. A corporação já havia informando anteriormente que os agentes envolvidos na ocorrência foram afastados das atividades.
O caso aconteceu no dia 20 de janeiro em um assentamento de Cavalcante. A nota, assinada por 134 organizações de todo o Brasil, intitula a ação da PM como “chacina” e denuncia ainda que a corporação “invadiu o local sem mandado judicial ou investigação prévia”. O documento aponta também supostas ilegalidades cometidas durante a ação.
“Violação de domicílio, ausência de mandado judicial e extrapolação de competência”, diz a nota.
Abordagem
Segundo a PM informou à Polícia Civil, uma equipe foi a uma propriedade rural, após receber uma denúncia de que ali haveria uma grande plantação de maconha. No registro, os PMs relataram que, chegando ao local, foram recebidos a tiros por um grupo, por isso, tiveram que revidar com 58 tiros de fuzis e pistolas.
Ainda de acordo com o depoimento dos policiais militares, além dos quatro que foram baleados e morreram, haveria outras três pessoas, que conseguiram fugir. O boletim de ocorrências relata que sete agentes atiraram na ação.
Quem são os mortos
A nota divulgou ainda a identidade dos mortos durante a ação, entres eles, há um quilombola kalunga:
Salviano Souza da Conceição: tinha de 63 anos, morava na chácara invadida pela polícia, era trabalhador rural e guia turístico;
Ozanir Batista da Silva: tinha 47 anos, conhecido como jacaré, era trabalhador rural, mas estava desempregado. Ele estava no local para ajudar na colheita de uma lavoura de milho, segundo a família;
Antônio da Cunha Fernandes: tinha 35 anos, conhecido como Chico Kalunga e era quilombola Kalunga, natural da Comunidade da Barra de Monte Alegre. Era trabalhador rural e também estava desempregado.
Alan Pereira Soares: tinha 27 anos, já trabalhou formalmente como entregador e auxiliar de máquina industrial, mas estava desempregado e passou a sobreviver de trabalhos informais como capina de terrenos. Ele deixou uma filha de seis meses e uma companheira grávida de três meses.
Drogas e investigação
Segundo o delegado Alex Rodrigues, os PMs constataram que havia cerca de 500 pés de maconha no local, além de porções prensadas e outras prontas para consumo – tudo deve ser periciado para confirmação de que se tratava da droga.
No entanto, parte da droga que foi encontrada pelos policiais foi incinerada no local antes da chegada da equipe da Polícia Civil. Essa ação não é a de praxe, segundo o delegado, por isso também será apurada.
“A priori, quem faz a incineração da droga, de acordo com a lei, é o delegado. A droga foi incinerada antes da minha chegada. Isso vai ser apurado o motivo”, disse.
Alex Rodrigues também contou que foi feita uma perícia minuciosa durante o sábado (22), que durou aproximadamente sete horas. De acordo com ele, os laudos que resultarão desse trabalho devem ajudar a esclarecer dúvidas sobre os disparos, a dinâmica dos fatos, entre outras.
Fonte: G1