Se tem algo que a jornalista Mariana Guedes aprendeu nos últimos anos é que nada vai ser capaz de impedi-la de realizar as próprias aventuras. Cadeirante há 7 anos, Mariana, hoje com 30, realizou um dos maiores feitos da vida: atravessou uma caverna de ponta a ponta. Foi a primeira cadeirante que se tem notícia no país que realizou a travessia. Tudo aconteceu nesta semana, dentro do Parque Estadual de Terra Ronca, em Goiás, para um projeto que ela mesma fundou: o Natur Trilhas Possíveis, voltado a pessoas com deficiência. A boca da caverna tem 96 metros de altura, e o comprimento total é de 700 metros. Mas, nada a impediu de seguir esse sonho.
‘A gente já está dentro da caverna, o teto é bem alto. Está passando um rio, parece bem maior porque tem o eco na caverna. Está sendo lindo. Tem muitas pedras, estamos usando cordas de apoio para subir porque ela é bem alta. Está sendo uma experiência incrível porque nunca imaginei andar no escuro, andar numa caverna fechada’.
Mariana conta que sempre foi uma pessoa ativa. Há sete anos, depois de um acidente de carro, ficou paraplégica. Mas, decidiu continuar vivendo o mundo: desde então, saltou de paraquedas, de bung jumpee, tirolesa, e agora a caverna entrou para o currículo de experiências. Tudo pareceu um sonho.
‘Sabe quando você dorme em casa e parece que foi tudo um sonho? Eu me belisquei. Graças à Deus, tenho registro para me recordar. Não consigo descrever em palavras, agradecer o suficiente para eles que me emprestaram as pernas, a mente, o coração, o corpo, a alma, quando me carregavam nas costas, pareciam que éramos um só’.
Para isso, ela contou com uma equipe de nove pessoas, entre elas, brigadistas, voluntários, todos com experiência em primeiros socorros ou com vasto conhecimento sobre o local. O grupo entrou às 9h30 da manhã na boca da caverna, e finalizou toda a experiência com um rapel, às seis da noite. Uma das pessoas que participou da aventura foi Paula Rocha, uma guia de turismo e gestora ambiental, que planejou toda a aventura durante três meses para dar certo. E deu.
‘A travessia da Mariana foi bem planejada, com todos os nossos parceiros. A caverna tem 700 metros de comprimento, mas tem subidas íngremes com corda, abismos, passagens de rio. Tem passagem de ponte estreita, agachamento. Voluntários foram com ela nas costas. No final, a gente viu que era mais possível do que a gente imaginava’.
Ao ser a primeira cadeirante a enfrentar o desafio, Mariana sente o peso da responsabilidade, mas diz que o plano é abrir caminhos para que outros sempre superem as próprias limitações. E se você acha que ela vai parar por aí, está completamente enganado.
‘Nosso lema é que a gente abre caminhos para PCDs, pessoas com disposição. Dá pra ir, e a gente prova que dá. Eu não tinha noção, antes do acidente, de como as pessoas com deficiência eram invisibilizadas, e a gente veio para quebrar essas barreiras. Eu quero acelerar os processos de quebrar essas barreiras, eu quero chegar em lugares jamais imaginados’.
Agora é pensar nos próximos caminhos: Mariana já planeja novas cavernas e uma nova descida de rapel. Outras aventuras que ela ainda não tinha imaginado serem possíveis. Tudo feito com muito planejamento, mas com a certeza de que haverá sempre uma nova aventura pela frente.
Fonte: CBN