A Polícia Civil de Goiás investiga uma possível fraude na transferência de titularidade da empresa Amazônia Inter Turismo Ltda., avaliada em mais de R$ 2 milhões, com sede em Planaltina de Goiás. O caso chamou atenção porque a alteração societária foi registrada no dia seguinte à morte do proprietário, como se ele ainda estivesse vivo.
De acordo com a certidão de óbito, Raimundo José Eustáquio da Conceição faleceu em 15 de outubro de 2024, com causa da morte declarada como “desconhecida”. O documento informa ainda que ele deixou seis filhos e não possuía bens registrados em seu nome. No entanto, no dia 16 de outubro, a Junta Comercial do Distrito Federal recebeu a documentação que retirava Raimundo da sociedade e incluía Gilberto José Ribeiro, que não tem qualquer parentesco com a família, como novo sócio-administrador.
A empresa, que recentemente anunciou uma nova linha de transporte de passageiros entre Posse e Goiânia, afirmou em nota que a alteração foi feita de forma “totalmente legal, amparada por documentos, autorizações e contratos devidamente assinados em vida”. A direção também declarou estar à disposição das autoridades para apresentar toda a documentação necessária.
Segundo informações do processo, a assinatura usada na transferência foi digital, vinculada ao CPF de Raimundo no sistema gov.br, mesmo após o registro de sua morte. Uma perícia inicial apontou indícios de manipulação de imagem e uso indevido da identidade digital. A denúncia, feita de forma anônima, chegou à Procuradoria de Planaltina de Goiás, que encaminhou o caso para a Polícia Civil.
“Quando verificamos a documentação, percebemos que o registro foi feito um dia após o falecimento, o que é impossível. A assinatura digital pode ser usada por qualquer pessoa com acesso. Além disso, constatamos indícios de manipulação de imagem”, explicou o procurador Gilson Santos, em entrevista.
O delegado José Antônio Sena, responsável pelo caso, afirmou que a investigação busca esclarecer todas as circunstâncias da transferência.
“Vamos confrontar a data do óbito com a data da assinatura, oficiar o cartório responsável e ouvir todas as pessoas envolvidas. Inicialmente, trabalhamos com os crimes de falsidade ideológica, estelionato e uso de documento falso”, destacou o delegado.