Comunidades rurais de Formosa e São João d’Aliança (GO) receberam, em agosto, estações meteorológicas que vão coletar dados climáticos desses locais. O objetivo é facilitar o manejo da irrigação dos cultivos de maracujá e manga que estão sendo implantados em assentamentos rurais desses municípios, atendidos pelo projeto Fruticultura Irrigada do Vão do Paranã. Nas 41 propriedades selecionadas em Formosa e nas sete em São João d’Aliança, estão sendo instalados kits de irrigação e espaldeiras.
Os dados climáticos coletados pelas estações meteorológicas alimentarão o aplicativo para telefone celular “Irrigar para Desenvolver (ID)”, que vai auxiliar os agricultores no manejo da irrigação com informações diárias sobre o momento ideal e a quantidade certa de água a ser aplicada nos cultivos, contribuindo para o uso eficiente dos recursos.
“O objetivo é que os produtores economizem água e energia e aumentem a produtividade”, explica o pesquisador Lineu Rodrigues, coordenador das ações da Embrapa Cerrados no projeto, desenvolvidas em parceria com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Franscisco e do Parnaíba (Codevasf).
O aplicativo será inicialmente acessado apenas pelos participantes do projeto, que estão sendo cadastrados pelas secretarias municipais de agricultura.
O projeto Fruticultura Irrigada no Vão do ParanãO projeto nasceu em 2023 com objetivo de viabilizar a produção irrigada de frutas por famílias de agricultores assentados de reforma agrária de Flores de Goiás, Formosa e São João d’ Aliança, no Nordeste goiano. Com contribuição técnica da Embrapa Cerrados (DF), as ações são lideradas pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa/GO). Também são parceiras do projeto a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), a Emater Goiás, o Senar/GO e as prefeituras locais. A primeira etapa do projeto contemplou 10 famílias de Flores de Goiás, que já estão colhendo a segunda safra de maracujá e estão à espera da produção de manga. Em março de 2024, foi instalada a estação meteorológica no município para fornecer informações para apoiar os agricultores locais, que já estão usando o aplicativo ID. Para Fábio Faleiro, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, o principal legado do projeto é o conhecimento. “Quando você aprende a trabalhar com maracujá e manga, ninguém vai lhe tirar isso”, diz, também destacando a união da população local em torno da iniciativa. “Temos otimismo de que é possível melhorar a qualidade de vida do produtor rural e, quando isso acontece, toda a comunidade melhora também. Acreditamos que a fruticultura irrigada é um caminho, com os nossos parceiros, a pesquisa, a transferência de tecnologia e a boa política pública”, completa. Faleiro também ressalta as ações de capacitação presenciais realizadas pela Unidade com os agricultores e técnicos locais, bem como a oferta de minicursos on-line gratuitos como Maracujás: cultivares, sistemas de produção e mercado e Manga: instruções técnicas para cultivo comercial, disponíveis na plataforma e-Campo da Embrapa. |
Encontros com as comunidades
No dia 11 de agosto, foi entregue a estação meteorológica de Formosa, na Escola Municipal Fazenda Palmeira, na zona rural do município, com a presença de autoridades, agricultores e a comunidade local. A prefeita de Formosa, Simone Ribeiro, ressaltou que o projeto tem um caráter de união em prol da coletividade: “Estamos inaugurando um equipamento que, para muitos, pode ser simples, mas traz informação e capta diretamente a necessidade de cada produtor rural, que há muito tempo foi esquecido”, disse.
O município abriga 29 assentamentos de reforma agrária e do crédito fundiário, com cerca de 2,5 mil famílias assentadas. “Já temos produtores focais de maracujá, alguns entraram no projeto. E a manga vem como uma novidade”, explicou a secretária municipal de Agricultura, Suzana Borgmann.
A secretária revelou a elevada expectativa dos agricultores formosenses com o projeto, lembrando que uma cooperativa será criada para apoiar a comercialização das frutas e que está em construção, em Flores de Goiás, uma agroindústria para beneficiar a produção dos três municípios. “Agora temos que trabalhar justamente em como os produtores vão escoar a produção, para que eles e consigam tocar o negócio sozinhos no futuro”, informou.
Em São João D’Aliança, a estação foi instalada no Projeto de Assentamento (PA) Mingau e entregue no dia 18. O prefeito Genivan Gonçalves falou sobre a perspectiva que se abre para os produtores do município: “Essa estação vem proporcionar uma produção mais voltada ao aumento da produtividade, com menor gasto de água. Os agricultores não vão produzir só para subsistência, eles vão aumentar a produção e comercializar os produtos agrícolas”.
O município pretende apoiar a comercialização da produção por meio de programas públicos de compra de alimentos, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). “Não adianta produzir em grande escala e não ter para quem vender. Então é essencial que nós possamos dar esse apoio”, enfatizou.
A vereadora Lilian Ferreira reforçou a importância dessa entrega: “A estação vai agregar muitos benefícios para os produtores do município, vai incentivar a agricultura familiar, que é quem coloca comida nas nossas mesas”.
Débora Domingues, ex-prefeita e responsável pela articulação do projeto em São João D’Aliança, informou que a escolha do PA Mingau para essa iniciativa é por ali estarem agricultores interessados em melhorar suas atividades: “Acreditamos que ele possa servir de exemplo para todos os outros assentamentos em nossas comunidades rurais”. O município tem cerca de dez assentamentos regularizados ou em fase de regularização, abrigando mais de 700 famílias.
O objetivo maior da iniciativa é que mais pessoas possam viver do trabalho da terra, segundo a ex-prefeita: “Muitas pessoas deixam de ganhar o sustento da própria terra para ganhar um salário de fome na capital. Estamos vendo, com esse exemplo, que muitos estão deixando de ir embora para poder investir em suas próprias terras. Isso traz esperança, renovação e dignidade”.
Nas sete propriedades inicialmente contempladas pelo projeto, distribuídas em três assentamentos, os kits de irrigação estão em fase final de instalação. As espaldeiras para o maracujá já foram instaladas e as mudas estão sendo plantadas. O secretário de Agricultura Mário da Mota informou que o município já contava com alguns produtores maracujá, mas, assim como em Formosa, a manga será uma novidade. “Estamos projetando a inclusão de mais produtores de São João D’Aliança. Muita gente está querendo participar. É um projeto muito rentável”.
Esperança no campo
As espaldeiras e os kits de irrigação já estão instalados ou em instalação em Formosa, e os agricultores começam a encomendar as mudas. Edim Alves de Abreu, do PA Fartura, cria bovinos de corte e, mesmo não tendo experiência com fruticultura, busca mais uma fonte de renda. “Temos uma grande esperança de produzir bem, pagar dívidas e trabalhar com seriedade”, disse.
Também assentado do PA Fartura, José Cardoso de Sousa destaca que o projeto agregará valor às propriedades. “Vai melhorar a vida de todos nós e também dos vizinhos e amigos ali por perto, porque vai gerar empregos”, aposta. Há oito anos ele cultiva mandioca e hortaliças, e apesar de conhecer os equipamentos de irrigação, vai trabalhar com frutas pela primeira vez: “O desafio é grande, mas nada que a gente não consiga superar, com o acompanhamento dos técnicos da Emater Goiás, do Senar/GO e da Embrapa”.
Geoval Terezinho Leite, no PA São Francisco, não esconde a empolgação. “A expectativa é a melhor possível. Nunca tinha ouvido falar de um projeto tão grandioso, estou maravilhado”, afirmou. Leite tem experiência com a produção de banana e tangerina ponkan em Padre Bernardo (GO), e atualmente produz açaí no assentamento – ele participa da Rota da Fruticultura Ride/DF. “Quero focar no açaí, no maracujá e na manga”, informou.
Entre os agricultores de São João D’Aliança, as expectativas também são grandes. Welton Ferreira, produtor rural e pastor do assentamento PA Mingau, contou que o exemplo de Flores de Goiás foi essencial: “É muito importante ver o sucesso das pessoas, como vimos na região do Vão do Paranã. Vimos os resultados das colheitas, que o projeto é muito bom e aí despertou no coração o desejo de seguir esse caminho”. Ele conta que já fez o pedido das mudas e está ansioso para iniciar os plantios.
O Sítio Ouro Verde, de Adonias Soares, onde eram cultivados alguns poucos pés de milho e de hortaliças apenas para subsistência, está sendo preparado para receber a estrutura de irrigação dos 2 hectares para os pomares. A expectativa é que os resultados sejam iguais ou mais favoráveis que os do município vizinho, pela qualidade da água de São João D’Aliança: “Estamos com muitas expectativas de que vai dar certo para nós também”.
Nascido no município, Joaquim de Moura Filho acredita que os diversos parceiros do projeto são a garantia de sucesso: “Temos uma tecnologia avançada, trazida pela Embrapa, a prefeitura está abraçando nossa causa e temos os governos federal e estadual e a Secretaria de Agricultura como parceiros. Não tem como não dar certo. Agora vou me tornar um empreendedor, um empresário”, comemorou.
O produtor reforçou ainda o papel essencial da cooperativa de produtores e da agroindústria que estão sendo montadas na região: “Já recebemos capacitação da Emater Goiás e do Senar/GO para fazer doces e polpa. Vamos industrializar e agregar valor ao nosso produto”.