A agtech Bio2Me arrendou sua primeira fazenda no Cerrado para cultivar baru em áreas preservadas ou improdutivas. A área, de 1,7 mil hectares, em Cavalcante, Goiás, na Chapada dos Veadeiros, dá o pontapé inicial no plano da startup de gerar R$ 45 mil por hectare em até sete anos, ou seja, uma receita de mais de R$ 38 milhões.
Mas o plano a longo prazo é ainda mais ambicioso. Segundo um dos fundadores da empresa e CEO, Cláudio Fernandes, o objetivo, em cinco anos, é expandir para 300 mil hectares, com o princípio básico de preservar a biodiversidade do Cerrado plantando bioativos como baru, pequi, fava d’anta, baunilha e jatobá.
A empresa vai investir R$ 2 milhões na nova fazenda, sendo R$ 1 milhão direcionado para o viveiro de 500 mil mudas, que é uma receita de curto e médio prazo. Já o outro milhão será para a estrutura da sede, do galpão e da conectividade na propriedade. Segundo o empresário, o valor investido já é oriundo do faturamento da operação spot de baru.
A nova fase da empresa é a grande virada de chave do seu negócio sustentável e rentável. “Isso muda o tamanho do jogo que estamos entrando. Num primeiro momento, a fazenda serviu como MVP [produto viável mínimo], mas mudamos de fase. Somos fazendeiros de grandes áreas, agora é escalar o negócio”. Até então, a Bio2Me operava somente na fazenda de 250 hectares de Cláudio, em Luziânia, Goiás.
O baruzeiro leva sete anos para começar a produzir. Com a aquisição, os sócios chegaram à conclusão de que a nova fazenda “paga a conta” com as árvores ali já plantadas. “A grande virada é que os baruzeiros nativos pagam a conta nos sete anos, mas as novas mudas vão dar escala”.
O sócio e diretor financeiro Márcio Campos compara o faturamento da soja, uma commodity tradicional, com o baru, carro-chefe da agtech. No modelo consorciado de baru e fava d’anta, a previsão de R$ 45 mil em média por hectare faz frente a um faturamento entre R$ 10 mil e R$ 12 mil por hectare de soja com todo o custo em dólar.
Enquanto a Bio2Me colhe o baru da fazenda-piloto de 250 hectares e das árvores já existentes na nova propriedade, o plano é adubar durante cerca de dois anos as novas mudas até que elas cheguem à plena frutificação em sete anos. Para isso, o custo baixo é parte fundamental do negócio.
Em 2024, a projeção de receita é de R$ 800 mil a R$ 1 milhão com a venda do fruto das duas fazendas, além da comercialização de mudas. Eles colhem, processam, transformam o fruto em castanha, torram e vendem para o consumidor final. Os maiores mercados da Bio2Me são hortifrútis e lojas de castanhas no Centro-Oeste, Rio de Janeiro e São Paulo.
Em paralelo, o CEO projeta faturar em 2025 mais de R$ 5 milhões apenas comercializando mudas. Isso deve significar mais que a própria venda de baru no próximo ano, com projeção de totalizar entre R$ 7 milhões e R$ 8 milhões.
Essa perspectiva é feita com base em um projeto de reflorestamento da Nestlé, através de sua plataforma de inovação aberta, a Panela. É previsto o plantio de seis milhões de árvores até 2027 em áreas degradadas de Cerrado e Mata Atlântica, em propriedades de bacias leiteiras. A multinacional não divulgou o investimento total, mas vai oferecer US$ 75 por hectare a agricultores que entrarem no projeto, e a Bio2Me já possui um acordo.
O projeto já está sendo implementado em duas fazendas parceiras da Nestlé, uma localizada em Araçatuba (SP) e outra em Montes Claros (MG). Nessas propriedades, 800 árvores de baru serão plantadas em uma área total de 10 hectares (cinco hectares em cada fazenda) ainda este ano.
“O plantio das árvores vai contribuir significativamente para o bem-estar dos animais, oferecendo maior conforto térmico nas pastagens através da sombra proporcionada pelas árvores. Melhorando também a produtividade animal, pois ambientes mais frescos e sombreados reduzem o estresse térmico. Além disso, a iniciativa contribui para aumentar a renda dos produtores rurais”, informa a Nestlé.
Queimadas
Neste momento, o maior empecilho do negócio de Fernandes e Campos são as queimadas. Eles explicam que, além do agronegócio tradicional, isso também é um sério problema para as áreas preservadas. “É o pior problema. Não tem seguro para mata nativa, falta maturidade do mercado financeiro”, afirma o CEO.
Para isso, a dupla tem em andamento um projeto de sensores na mata para antecipar qualquer sinal de incêndio, além de sensoriamento de umidade e temperatura. O projeto tem parceria do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD) e da Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII).
Fonte: Globo Rural