Além da riqueza de recursos hídricos, a Chapada dos Veadeiros, no Nordeste goiano, conta com águas termais. O avanço de estudos e pesquisas, por exemplo, podem levar a exploração turística da região para outro patamar. No entanto, os especialistas defendem que o local não suporta um movimento de massa, como ocorre em Caldas Novas. Por isso, a infraestrutura, como construções, precisam ser adequadas e atender às características ambientais locais. Isto é, mitigar o impacto do turismo.
Um dos poços perfurados está localizado no município de Niquelândia, o qual a reportagem do Jornal Opção visitou na segunda-feira, 17. O poço tem 108 metros de profundidade, com uma tubulação por onde jorram água na temperatura de 42 graus. De acordo com pesquisas, a vazão está entre 180 e 220 metros cúbicos por hora. Isso seria suficiente para atender um complexo de apartamentos de fazer inveja para os empreendimentos de Caldas Novas. Embora de fora da lista dos municípios que compõem a Chapada, mas pelo imenso território, o novo potencial das águas termais deve deslocar, ao menos, parte de Niquelândia para aquele polo.
“Aquela região tem um grande potencial turístico e, ainda mais, ligada à ideia da Chapada dos Veadeiros, que tem uma projeção nacional e internacional” Vilmar Rocha, sobre águas quentes em Niquelândia
Os estudos dos pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) mostram que há três grandes grupos de jazidas de águas termais. A diferença de cada uma é o tempo cronológico, as características hidroquímicas e temperaturas, que variam entre 28º e 42ºC. As pesquisas pontuam que as águas são surgentes na linha da denominada “Falha Geológica São Joaquim”. O geólogo Sebastião Peixoto, que realizou o estudo econômico para a exploração das águas termais, explicou como ocorre o processo de aquecimento, que não tem ligação com atividades vulcânicas. “A água vai a grande profundidade e aquece. Volta com temperatura agradável”, esclarece. Segundo ele, essa água é muito mais quente, porém no circuito de subida, se mistura com água fria.
O terceiro teste da água – falta ainda o quarto e último, pois é um estudo para cada estação do ano – é realizado pelo Laboratório de Análises Minerais (Lamin) da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). A instituição sediada no Rio de Janeiro é responsável pelas análises “in loco” das fontes de águas minerais do Brasil. Dessa vez o Lamin enviou o analista em geociências Ângelo Reis Giada. Ele explicou que as análises são exigidas para averiguar algum tipo de contaminação da água. “A água de balneário para banho é menos rigorosa do que para água mineral para engarrafamento, mas tem. A pessoa não pode mergulhar em uma piscina com coliforme fecal”, exemplifica.
A água quente da região de Niquelândia foi encontrada por moradores, inclusive um córrego próximo ao poço perfurado na região há várias nascentes com temperaturas que chegam aos 38 graus. Por enquanto, ao menos três pousadas exploram as águas termais da Chapada: Morro Vermelho, Termas do Jequitibá e Pousada Éden Águas Termais. O professor Ycarim Melgaço, doutor em Geografia e que por décadas coordenou cursos de turismo e visitou a região da Chapada com alunos, observa que, antes da exploração das águas termais para o turismo, é preciso melhorar a segurança dos espaços que há no local. “A falta de segurança e investimentos para o setor turístico não é apenas em Goiás, mas em todo o País. Faltam no Brasil políticas públicas para o turismo”, lamenta.
Devido ao clima mais quente e seco na região da Chapada dos Veadeiros, Ycarim Melgaço aponta os desafios em manter a água por muito mais tempo aquecida em piscinas, por exemplo. Para o analista em geociências Ângelo Reis, a solução é o abastecimento do local sequencial por água quente.
O ex-deputado federal e ex-secretário do Meio Ambiente de Goiás Vilmar Rocha (PSD), que é natural de Niquelândia, visitou recentemente o local e aferiu que água possui 42 graus de temperatura. “Aquela região tem um grande potencial turístico e, ainda mais, ligada a ideia da Chapada dos Veadeiros, que tem uma projeção nacional e internacional”, cita. “Niquelândia embora não faça parte da região, ela está muito próxima”, emendou.
O presidente da Goiás Turismo, Fabrício Amaral, frisou que teve conhecimento dos primeiros estudos por meio do idealizador das pesquisas científicas, o advogado Uarian Ferreira. “Mas está muito embrionário. Acho que não há dúvidas da qualidade da água”, acentua. “Eu acho que é um futuro muito promissor, porque conectar a natureza exuberante com água quente é realmente sair da caixa. Mas o Estado não tem conhecimento ainda de nenhum projeto efetivo sobre as águas quentes”, esclarece.
Fonte: Jornal Opção