“A Chapada dos Veadeiros é um território onde essa ideia da produção de natureza gerar riqueza para a população local é muito aplicável”. Com essa visão, dois companheiros se uniram em um projeto de recuperação do Cerrado, e o que era para ser um sítio compartilhado entre amigos virou duas reservas naturais, criadas para serem um patrimônio da comunidade de Cavalcante (GO) e do Brasil.
Situadas na porção nordeste de Goiás, as reservas Veredas dos Buritis e Sol & Luz do Catingueiro abrangem uma área de 184 hectares. As terras, antes usadas para pecuária, foram compradas pelos parceiros André Aquino e Daniel Ferreira, um executivo do Banco Mundial e um diplomata de carreira que há 15 anos vivem fora do Brasil – mas planejam voltar em breve.
A reserva Sol & Luz já ganhou certificado de RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), e a Veredas está no caminho. O projeto principal é a recuperação ambiental das áreas para manutenção de flora e fauna do Cerrado, além de usar o terreno como propulsor de atividades econômicas e de educação com a comunidade de Cavalcante, um município pobre com ligação histórica com a população quilombola.
“Uma das coisas que imaginei era usar a reserva para fundraising, e já juntamos fundos para ajudar a Brigada de Fogo, por exemplo”, cita Aquino. Entre dados levantados sobre as áreas, já se sabe que a Sol & Luz abriga cem espécies de aves, e a Veredas dos Buritis tem uma vegetação que armazena cerca de 15 mil toneladas de CO2 anuais.
Na conversa com Um Só Planeta, o executivo descansava após uma atividade com 40 pessoas que foram “passarinhar”, ou observar pássaros, em uma das reservas. Segundo Aquino, em uma hora foi possível ver 50 espécies na mata do Cerrado.
“Fizemos com pessoas da comunidade que não sabiam que estão do lado dessa biodiversidade. Ao mesmo tempo, há falta de guias especializados na região, então pode ser também uma atividade que gere emprego, e contribui para a Ciência –vamos colocando em apps de ciência cidadã, o que vai gerando um banco de dados sobre essa riqueza que não se tinha antes.”
Os proprietários querem manter as reservas abertas, e visitações são bem-vindas. Não há, contudo, estrutura turística.
O casal Emílio e Giovânia, membros da comunidade calunga, o maior quilombo remanescente no Brasil, toma conta da reserva Veredas dos Buritis e faz o manejo da terra, a catalogação de sementes e a revitalização da flora. O filho do casal cuida do monitoramento da fauna, com câmeras que já registraram a presença de antas, lobos-guará, jaguatiricas, cachorros-do-mato e mais espécies típicas do Cerrado.
Fonte: Um Planeta Só/Globo