Moradores de comunidade quilombola kalunga, em Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros, estão preocupados com a invasão de búfalos na região. Fiscais da Secretaria de Meio Ambiente (Semad) estiveram no local, constataram a atividade ilegal e multaram o fazendeiro em mais de R$ 300 mil pela criação ilegal em terra kalunga, que é tombada como patrimônio cultural e histórico da humanidade.
A Semad informou que o dono do rebanho tinha prazo até 18 de dezembro para retirar os animais da área protegida, mas ele descumpriu a ordem. A fazenda está em fase de desapropriação pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) por ser área de preservação permanente.
Segundo os moradores, é a segunda vez que os animais são soltos na área, que é protegida por órgãos ambientais. Eles denunciam que o rebanho ameaça as plantações e pode causar desequilíbrio ambiental na área.
O dono dos búfalos também foi multado em R$ 6,5 mil por danos à area de preservação permanente. A TV Anhanguera não conseguiu contato com o fazendeiro Marcos Rodrigues da Cunha , conhecido na região como Marcos Búfalo.
Com a ajuda de um drone, a reportagem encontrou um rebanho de bufálos dentro da comunidade kalunga, na semana passada. Nas imagens, é possível ver que parte da vegetação já foi destruída pelos animais.
Invasão
Desde 2021, a comunidade kalunga disse ter problemas com a invasão dos búfalos na região. Nessa segunda vez, são mais de 80 animais andando livremente pelos pastos e plantações.
O lavrador Agripino Dias contou que nos últimos meses, búfalos tem invadido e destruído as plantações da chácara dele. “Eles comem tudo, plantas, até os arames”, comentou.
Brígida Pereira, esposa do Agripino, disse que anda tão assustada com a presença dos animais que evita ficar sozinha no quintal de casa. “Eles já vieram aqui perto do nosso rio, onde lavamos roupa. Eu tenho muito medo”, desabafa a mulher.
Segundo o presidente da Associação Quilombo Kalunga (Kalunga AGK), Arlos Pereira, a propriedade do fazendeiro está na lista das áreas que vão ser desapropriadas pelo governo federal, desde que foi feita a demarcação do sítio histórico dos quilombolas.
“Devido o dono não ser indenizado e desapropriado ainda, ele usa isso como ameaça, mas não são os kalungas que devem nada a ele. Ele coloca os animais para destruírem mesmo, a nascente, vamos ficar sem água, vai causar erosão”, comentou Arlos Pereira.
Com cerca de 300 anos de ocupação, Kalunga é o maior território quilombola do Brasil com 262 mil hectares. Mais de 1,5 mil famílias vivem em 39 comunidades espalhadas em três municípios goianos: Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás, na região da Chapada dos Veadeiros.
Fiscalização
A Secretaria Sstadual de Meio Ambiente disse, por meio de nota, que está tomando todas as medidas administrativas e que equipes de fiscalização vão ao local para impedir a prática de infração ambiental.
O Incra disse que não foram encontrados registros de conflitos na câmara de conciliação agrária relativos ao incidente em questão. Disse ainda que no processo de desapropriação da fazenda que fica na comunidade kalunga, o imóvel está pendente de indenização e que ainda não uma data para o pagamento.
Fonte: O Popular