Na segunda-feira (30), quase três meses após a morte do agente da Polícia Federal (PF) Lucas Valença, conhecido como “hipster da Federal”, a corporação respondeu a algumas perguntas feitas pelo g1 sobre o caso em 13 e 14 de abril. Entre os dados divulgados, a PF lembrou que o servidor não tinha histórico de violência e que nunca relatou ter problema psiquiátrico.
Valença foi morto na noite de 2 de março de 2022. Segundo as investigações da Polícia Civil, Lucas estava “transtornado” quando invadiu a casa de um morador de Buritinópolis e foi baleado pelo homem, que agiu em legítima defesa.
Segundo a advogada Sindd Campos informou à época da morte, o policial federal foi a Mambaí, cidade vizinha a Buritinópolis, para comemorar o aniversário do irmão. Ainda de acordo com ela, o cliente fazia um tratamento contra depressão.
A Polícia Civil apurou que Valença teve um “surto” que o levou ao local onde acabou morto a tiro. Questionada sobre o acompanhamento à saúde mental de Lucas, a Polícia Federal explicou que o atendimento biopsicossocial é feito se o próprio servidor demandar essa assistência.
“No caso em questão, o servidor não procurou essa divisão para tratar sobre problemas psiquiátricos e também nenhuma queixa sobre seu comportamento ou instabilidade emocional”, informou a PF.
Também de acordo com a PF, “não há registro em prontuário de atendimento/afastamentos por motivo psiquiátrico”.
Um dos amigos de Lucas que tentou ajudá-lo durante o “surto” chegou a contar à Polícia Civil que Valença seria indicado para uma trasnferência no trabalho, que vivia um bom momento profissional.
Também questionada pelo g1 acerca desta questão, a PF informou que as promoções na corporação são realizadas por meio de concurso público, mas confirmou que “houve entendimentos para que o mencionado servidor fosse movimentado para a ANP/DGP/PF (Academia Nacional de Polícia) pouco antes do seu falecimento”.
‘Surto’ e morte
De acordo com o delegado Alex Rodrigues, responsável pela investigação, o primeiro sinal de alteração em Lucas notado pelos familiares foi uma reação que eles consideraram desproporcional a uma briga entre o cachorro do policial – que ele havia adotado recentemente e levado à chácara – e o cão da família.
Rodrigues descreveu que, para separá-los, Lucas acabou chutando o segundo animal. Esse teria sido o início do surto de agressividade do policial, que acabou rolando com o cachorro no chão e teve que tomar uma vacina antitetânica no dia seguinte. Segundo testemunhas, ele pediu desculpas por diversas vezes.
![Imagem mostra que 'hipster da Federal' cravou um canivete na porta da chácara da família durante surto, antes de ser morto a tiro — Foto: Reprodução/Polícia Civil](https://s2.glbimg.com/MVVfhlU60bWiB4LqAUZ2v7i1Sp4=/0x0:1700x1065/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/X/0/mweGjsTe6kTKq8jPaqPQ/hipster.jpg)
Imagem mostra que ‘hipster da Federal’ cravou um canivete na porta da chácara da família durante surto, antes de ser morto a tiro
Depois disso, Lucas teria danificado a casa da chácara da família de várias formas. Entre elas, cravando um canivete através de um coração feito de espuma a uma porta.
“A mãe dele tinha voltado para a casa em que mora em Brasília com o outro filho, irmão de Lucas, e ele estava com o padrasto, que foi notando piora no comportamento dele”, completou o delegado.
A família decidiu pedir ajuda a um amigo de Lucas, que é policial federal e foi chefe dele na corporação. Este e outros dois policiais amigos também foram à chácara para tentar ajudar.
Os amigos tiraram de Lucas a submetralhadora e duas pistolas que ele tinha no local, deram um remédio a ele para que se acalmasse, o colocaram na caminhonete em que estavam e tentaram levá-lo a uma clínica em Brasília. No entanto, Valença voltou ao estado alterado no caminho e saía do carro, correndo pela rodovia, insistindo em voltar para a chácara.
![Lucas Valença, conhecido como hipster da Federal, que foi morto a tiro em Buritinópolis — Foto: Reprodução/Instagram](https://s2.glbimg.com/CX31gC_vEtr49Xu3R9xH95BT71A=/0x0:1700x1065/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/d/C/44BziLRjAgFbXBOBxAjA/lucas-valenca2.jpg)
Rodrigues disse que a família não explicou se ele estava ou não tomando algum medicamento e se tinha acompanhamento de algum psiquiatra. A psicóloga de Lucas, segundo o delegado, também preferiu não dar detalhes sobre o tratamento.
O delegado contou que os amigos tentaram ajudar Lucas durante cerca de 12 horas, até que desistiram de insistir e o deixaram onde ele pediu: em frente ao condomínio de chácaras em que ficava a propriedade da família dele.
Após esse momento, Lucas caminhou cerca de 1,5 km até a casa em que acabou morto. As investigações apontaram que ele estava descalço e de bermuda quando quebrou a chave da energia da casa e invadiu o imóvel, sendo morto a tiro em seguida.
Fonte: G1