A Polícia Militar encaminhou para a Justiça mais três investigações por homicídio envolvendo cinco dos sete policiais militares denunciados pela morte no dia 20 de janeiro de quatro pessoas rendidas em uma chácara em Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros. O sargento Aguimar Prado de Morais, que esteve na abordagem em janeiro, é o único que aparece nos três novos casos. Já o cabo Jean Roberto Carneiro dos Santos aparece em dois.
Somando-se ao levantamento feito em reportagem no dia 7 de março pelo Jornal O Popular, já são pelo menos 14 investigações desde 2015 com 21 mortes envolvendo no mínimo um dos sete policiais militares denunciados. Com exceção do caso de Cavalcante, todos os outros ou foram arquivados ou se encontram em processo de arquivamento. Apenas um está parado porque o inquérito foi encaminhado incompleto para a Justiça em 2021 e isso nunca foi corrigido.
Aguimar e Jean foram denunciados no dia 11 de março pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) juntos com o sargento Mivaldo José Toledo e os soldados Welborney Kristiano Lopes dos Santos, Luís César Mascarenhas Rodrigues, Ítallo Vinícius Rodrigues de Almeida e Eustáquio Henrique do Nascimento por homicídio qualificado mediante “recurso que dificulte ou torne impossível a defesa” das quatro vítimas na Chapada.
Na ocasião, foram mortos Salviano Souza Conceição, de 63 anos, Ozanir Batista da Silva, o Jacaré, de 46, Alan Pereira Soares, de 28, e Antônio Fernandes da Cunha, o Chico Calunga, de 35. Eles teriam sido abordados primeiro na chácara de Ozanir e depois levados para a vizinha, de Salviano. Os policiais efetuaram 58 tiros com quatro fuzis e duas pistolas e um revólver, sendo que pelo menos 10 atingiram as vítimas.
Um dos casos foi na noite do dia 24 de abril do ano passado. Aguimar e Jean relataram terem recebido informações de que duas pessoas em uma moto levariam droga para uma terceira pessoa em uma casa no Jardim Atlântico, em Niquelândia. Após ronda na região, identificaram uma moto suspeita com dois homens, que tentaram fugir em direção a um matagal. Um deles teria atirado contra os policiais, que reagiram com um tiro cada. Edvaldo Madureiro Tavares, de 32 anos, caiu no chão atingido por um disparo na altura do peito.
Os policiais contam que chamaram os bombeiros para socorro, mas estes estavam em outra ocorrência, por isso tiveram de eles mesmos levar o suspeito para o hospital, chegando ao local já morto. Com ele teria sido encontrada uma carabina de fabricação caseira e uma munição no bolso.
Três meses depois, em julho, Aguimar e Jean estavam juntos com Welborney checando, segundo os três, uma denúncia de que uma pessoa estaria levando droga até uma comunidade na zona rural de Niquelândia. Ao ver a viatura, o suspeito teria tentado escapar entrando em um matagal atirando contra os policiais, que reagiram disparando 10 vezes. Marcos Oliveira Leite, de 35 anos, foi atingido por um tiro no peito.
Os policiais militares contaram que na região não havia sinal de celular e precisaram colocar o suspeito ainda vivo na viatura. No caminho conseguiram contato com os bombeiros, mas Marcos veio à óbito. No carro dele, os policiais afirmam terem encontrado 1,5 kg de maconha. Além disso, foi apreendido um revólver calibre 38 que estaria com Marcos. A arma estava com seis cápsulas deflagradas.
Mais três meses se passaram, e Aguimar, desta vez junto com Luís César, Ítallo e mais um outro policial que não figura entre os sete denunciados no caso de Cavalcante, foram atender a uma ocorrência de roubo em uma pousada em Niquelândia. Após ronda na região, encontraram Franz Eduardo Ferreira, de 39 anos, em uma estrada vicinal, que ao ver os policiais teria entrado em uma mata atirando contra eles.
Segundo a versão dos policiais, foram três tiros disparados pelo suspeito contra 10 pelos policiais. Destes, três disparos acertaram Franz. Novamente, como não havia sinal de celular no lugar, colocaram ele na viatura e conseguiram contato com os bombeiros no caminho, mas quando o socorro chegou o homem já estava morto. Um outro suspeito de participar do roubo foi preso horas depois, na casa da mãe.
Nos três casos, a conclusão do inquérito aberto pela PM foi de que os policiais agiram em legítima defesa e de que não houve nenhuma transgressão por parte dos envolvidos. De qualquer forma, por exigência legal, os casos são remetidos à Justiça comum e passam por análise do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO).
Em um dos casos, o responsável pela investigação interna cita que na ficha dos policiais constam medalhas e sinalização de bom comportamento para concluir que eles não cometeram nenhuma infração durante a abordagem que resultou em morte.
Não há no sistema judiciário nenhum encaminhamento até o momento pelo menos do inquérito que deveria ter sido aberto pela Polícia Civil envolvendo estes três casos.
Os sete policiais militares envolvidos no caso da Chapada se encontram presos desde o dia 3 de março. Eles alegam terem agido apenas como reação a tiros disparados primeiro pelos suspeitos.
Fonte: O Popular