O clima do final do inverno e início da primavera de 2023 não tem sido fácil de lidar para os goianos. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) vem alertando sobre a onda de calor extremo em grande parte do País, com Goiás e outros oito Estados na lista de “grande perigo”, com os termômetros batendo os 40° C no último fim de semana. Entre a parcela da população que precisa de mais atenção com a saúde em momentos como esse estão as crianças e idosos, que vêm sentindo no organismo os efeitos de temperaturas tão altas e podem ser afetados de maneira ainda mais grave.
Os pequenos João Lucas Galvão Oliveira, de 8 anos, e Maria Luzia Galvão Oliveira, de 3 anos, aproveitaram a água de coco geladinha para amenizar o calor em um passeio no parque com a mãe, Mariely Portela Galvão. Ela conta que, principalmente nesse período em que as temperaturas estão mais altas, eles costumam fazer mais passeios ao ar livre em locais que tenham sombra. “Estamos saindo mais de casa e hidratando eles muito, oferecendo água, água de coco, picolé, tudo que estiver mais geladinho. Está insuportável”, diz.
Entre as maiores queixas está a hora de dormir dos pequenos e as questões respiratórias. “Eles estão dormindo mal nesses dias e nem podem usar ventilador, porque piora a rinite e a sinusite deles”, conta Mariely. Além da temperatura elevada, a umidade relativa do ar prevista para menos de 20% nos últimos dias é bem abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (60%), cenário que só deve melhorar no fim do mês com a chegada das pancadas de chuva.
A forte massa de ar quente e a baixa umidade podem levar a problemas respiratórios, desconforto no nariz, boca e olhos e ressecamento da pele, como destaca o alerta emitido pelo Ministério da Saúde na semana passada. Quem já possui problemas respiratórios, como rinite e sinusite, deve redobrar a atenção e reforçar a hidratação. “E muita atenção: alguns sinais como tosse, alergias respiratórias e dificuldade de respirar são questões que pedem cuidados médicos”, reforça a pneumologista Natália Carelli.
Ela explica que com o clima quente os diversos gases tóxicos a que a população está exposta diariamente é inalada em temperaturas mais elevadas, o que causa maiores danos à mucosa respiratória. “Gosto de fazer uma analogia: nossa mucosa é como se fosse um asfalto que quando ressecado pelo tempo seco e quente pode induzir a rachaduras. E, quando acontecem essas fissuras, temos a perda da integridade do tecido, que pode levar não só a lesões pelo ar quente e seco, mas ao risco para a entrada de germes respiratórios como vírus e bactérias, porque há uma perda da integridade desta mucosa”, diz.
Cuidado com o coração
Entre os efeitos nocivos do calor extremo está para a saúde do coração. “A alta temperatura pode favorecer a vasodilatação corporal, ou seja, causar uma maior dilatação nos vasos sanguíneos, diminuindo a pressão arterial e fazendo com que o coração precise trabalhar mais para conseguir bombear o sangue. Consequentemente, aumenta o risco de enfarte, AVC, arritmia e insuficiência cardíaca, principalmente em pessoas que já possuem algum tipo de doença cardíaca”, explica o médico cardiologista Rizzieri Gomes.
É importante observar alguns sinais, como suor intenso, fraqueza, sonolência, tontura, cansaço desproporcional ao esforço feito, palpitações e batimentos cardíacos irregulares, segundo o especialista. “Esses são alguns sintomas que podem ser, sim, um sinal de alerta do coração. Vale lembrar que há um suor muito diferente do habitual da prática da atividade física regular, que é um suor ‘frio’. Outro sinal é um desconforto no peito durante a prática esportiva, o que é muito característico e acende um alerta importante porque significa que o coração está exposto a uma sobrecarga, um esforço maior”, aponta.
Atividade física
Na hora da prática de atividades físicas é preciso fazer algumas adaptações ao clima quente, aponta a nutricionista Arissa Felipe Borges. “Optar por horários mais frescos, como no início da manhã ou no final da tarde, e escolher atividades de menor intensidade, como caminhadas, ioga ou natação, pode ajudar a evitar a exposição excessiva ao calor”, aponta. Além disso, a especialista destaca que é essencial proteger a pele da exposição direta ao sol. “Usar protetor solar, roupas leves e chapéus são medidas simples, mas eficazes para prevenir danos causados pela radiação solar”, indica.
Pensando na saúde do coração, o cardiologista Rizzieri Gomes indica, em primeiro lugar, “escutar” o que o corpo está dizendo. “Se começar a sentir tontura ou fraqueza durante a prática esportiva, a recomendação é parar imediatamente para se recuperar”, diz. Intensificar a ingestão de água também é um ponto de destaque. “Normalmente deve-se ingerir 30 ml por quilo de peso para que o organismo fique ‘empatado’, então os praticantes de atividades físicas devem aumentar esse volume por quilo de peso. E, se o calor estiver intenso, deve-se consumir mais ainda.”
Caso não seja possível priorizar os horários de temperaturas mais amenas ou praticar em ambientes climatizados, a recomendação é deixar de praticar esportes nos momentos de calor ou ainda reduzir a intensidade, fazendo treinos mais moderados e regenerativos. “O calor intenso expõe o sistema cardiovascular e o coração. Então, quem estiver começando a fazer atividade física precisa buscar uma avaliação para ver se o coração está em ordem, para não ter nenhum tipo de problema ou risco ao começar a se exercitar nesse momento de calor muito intenso. Os cuidados nunca são demais”, finaliza.
Beba água!
Uma atenção redobrada com a ingestão de água é crucial para atravessar esse período de calor intenso sem afetar a saúde, e algumas estratégias podem ser adotadas para manter a hidratação. “A recomendação é ingerir água regularmente ao longo do dia. Além disso, sucos naturais, água de coco e chás sem cafeína também são ótimas opções para manter o equilíbrio hídrico”, aponta a nutricionista, doutora em medicina tropical e saúde pública e professora Arissa Felipe Borges.
A especialista reitera que uma atenção especial deve ser dada à hidratação de crianças e idosos, parcela da população que se desidrata facilmente. De maneira geral, a recomendação é que a ingestão de água seja em torno de 2,5 a 3 litros de água por
dia, o que seria equivalente a cinco garrafas de água de 500 ml ou 12 copos de 200 ml. Entre as estratégias recomendadas pela professora está a preferência por refeições leves e ricas em água, como saladas, frutas e legumes. “Essa é uma excelente escolha para manter o corpo nutrido e bem hidratado. Além disso, evitar alimentos muito condimentados ou gordurosos pode ajudar a evitar desconfortos gastrointestinais”, orienta.
Fonte: O Popular