Um exame pericial comprovou que a miss trans Jade Fernandes, de 23 anos, sofreu violência sexual e teve lesão profunda, conforme informação obtida pela TV Anhanguera. Jovem denuncia ter sido estuprada pelo delegado Kleyton Manoel Dias, após ele oferecer carona para ela ao saírem de uma festa, em uma boate de Goiânia. Documento já foi encaminhado para a Polícia Civil, que investiga o caso.
Em nota, o delegado disse que repudia as acusações e que se coloca à disposição das autoridades na investigação do caso. Kleyton também disse que “irá provar sua inocência” e que está “muito abalado com o ocorrido”.
O laudo atesta que Jade passou por uma relação sexual violenta, que causou uma lesão profunda e sangramento contínuo por dias (entenda como o crime aconteceu abaixo). A polícia ainda aguarda o resultado de uma perícia no carro do delegado, onde a vítima denuncia ter sido abusada.
Segundo a defesa da vítima, outro exame, cujo objetivo é identificar se a vítima foi ou não dopada, também foi realizado. O resultado deve ser apresentado em até 30 dias.
A Polícia Civil informou que, assim que tomou conhecimento do caso, adotou todas as medidas necessárias para seu esclarecimento, sendo o fato investigado pela Delegacia da Mulher (Deaem) com auxílio e acompanhamento da Corregedoria. Kleyton foi afastado de suas funções e passou a atuar em uma unidade administrativa.
Entenda o crime
Segundo a denúncia, o crime aconteceu na madrugada de sexta-feira (5). Jade foi para uma boate na capital, onde acontecia a festa de aniversário de um jornalista, que é conhecido dela. O delegado também era um dos convidados. Ao final da celebração, o jornalista foi embora, mas Jade, o delegado e outra mulher combinaram de ir para outro local.
Kleyton ofereceu carona até o novo estabelecimento. Dentro do carro, a outra passageira perguntou para Jade se ela era uma mulher ou um homem. Depois da resposta, o delegado decidiu cancelar a continuidade da noite e ofereceu-se para deixar as duas em casa.
Um vídeo mostra o delegado e a miss deixando a boate, antes do estupro denunciado por ela acontecer. Nas imagens, os dois conversam dentro do estabelecimento e dão um beijo ao se dirigirem ao caixa. A outra mulher estava ao lado presenciando tudo.
Primeiro, Kleyton deixou a outra mulher em casa, no bairro Jardim Novo Mundo, e depois seguiu em direção à casa de Jade, no Setor Jaó. A vítima disse que não se lembra de todo trajeto, mas que, em determinado momento, o delegado parou o carro em um local escuro e pouco movimentado e a perguntou: “O que vamos fazer agora?”. Ela diz que respondeu que iria para casa.
“Ele colocou o órgão genital para fora e pediu pra gente fazer alguma coisa [ de cunho sexual ]. Eu insisti que não queria e, a partir daí, ele começou a ficar um pouco mais agressivo”, lembra a jovem.
Segundo a vítima, foi neste momento que o delegado passou a forçá-la a praticar sexo com ele. De acordo com o miss, mesmo com as negativas dela, Kleyton a levou até o porta-malas do carro, onde praticou o estupro. Jade continuou dentro do porta-malas do carro, até o delegado parar em frente à casa dela.
“A partir do momento que eu não tenho interesse, que eu me nego a me deitar com homem, e ele força, eu acredito que seja estupro. Ninguém tem uma relação sexual e joga a outra pessoa no porta-malas do carro ensanguentada”, desabafou a vítima.
Uma câmera de segurança registrou quando a jovem sai do veículo completamente nua. Ela esconde as partes íntimas com os sapatos. Minutos depois, de acordo com a miss, o delegado retorna ao local e deixa o vestido de Jade na porta do imóvel.
Trauma
Jade divide casa com o amigo Ricardo Amaral Dias. À TV Anhanguera, ele contou que ela chegou em casa dopada e bastante ferida. Ele chamou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), e a vítima foi levada para um hospital, onde recebeu atendimento médico.
“Não consigo dormir. Tem uns três dias que eu não durmo, nem tomando medicamento. Continuo sangrando, machucada. Estou tomando analgésico”, desabafa.
Essa não é a primeira vez que Jade sofre um estupro, mas, segundo a vítima, é a primeira vez que ela denuncia. “A mulher que eu me tornei foi para ter uma voz muito maior do que qualquer outra coisa […] não podia me deixar passar mais por qualquer tipo de preconceito ou violência. Outras mulheres e tantas outras mulheres transexuais passam por isso e têm medo de retaliação, mas agora chega. A gente está cansado”, lamentou.
Medida protetiva
O juiz plantonista Thiago Soares Castelliano Lucena de Castro concedeu uma medida protetiva para Jade. No documento emitido pelo TJ-GO, o juiz determinou que o delegado:
permaneça a uma distância mínima de 300 metros da miss e de seus familiares, sem qualquer tentativa de aproximação;
não entre em contato com a miss ou seus familiares por qualquer meio de comunicação (telefone, WhatsApp, e-mail e outros);
não frequente os mesmos locais que a miss;
Até a última atualização desta matéria, a reportagem não conseguiu contato com a vítima para que ela pudesse dar mais detalhes sobre o caso.
Nota do delegado Kleyton Manoel:
“De início, repudia veementemente as acusações e se coloca à inteira disposição das autoridades nas investigações que apuram o caso.
Informa que ainda não foi ouvido no inquérito que investiga o suposto estupro. Irá provar a sua inocência e neste momento está muito abalado com o ocorrido, cuidando de sua família, esposa e filho.
Por fim, pede encarecidamente a todos cautela nas conclusões precipitadas, que aguardem as conclusões das investigações no esclarecimento dos fatos, que ao final irá demonstrar a sua inocência.”
Fonte: G1