Atrativos como trilha e Cachoeira do Funil, Poço Azul, mirante, caverna e tirolesa da Lapa do Penhasco ou Cachoeira Paraíso do Cerrado, entre outros, têm beleza comparável aos da Chapada dos Veadeiros e podem ser explorados sem acotovelamento.
É claro que para as administrações dos três municípios o aumento do turismo seria bem-vindo. Por integrarem a Área de Preservação Ambiental Nascentes do Rio Vermelho, eles não podem apostar no agronegócio, que viceja em municípios baianos logo após a divisa com Mambaí.
Mambaí lidera uma iniciativa de tornar os municípios citados – e também outros do entorno, como Sítio D’Abadia, Posse e Simolândia – uma região turística à parte em Goiás. Esse reforço resultou em uma visita técnica da Comissão de Turismo da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) e em uma audiência pública no dia 27 de junho, com a presença dos deputados Coronel Adailton (Solidariedade), presidente da comissão, e Alessandro Moreira (PP), membro do colegiado.
No Mapa do Turismo Goiás 2025, Mambaí, Damianópolis e Buritinópolis aparecem como parte da região de Terra Ronca, uma das 12 regiões turísticas goianas, embora não integrem a área do Parque Estadual de Terra Ronca, que abrange apenas São Domingos e Guarani de Goiás.
Para as lideranças da política e do turismo local, trata-se de criar uma identidade própria para atrair mais visitantes. Anteriormente, o município de Mambaí compunha, com os de Formosa e São Domingos, uma região chamada Águas e Cavernas de Goiás.
Uma vantagem de se criar uma região turística própria, argumenta o vereador de Mambaí Welinghton Pinheiro de Oliveira (Solidariedade), um dos coordenadores da proposta, é que uma ida ao parque da Terra Ronca dificilmente inclui deslocamentos de São Domingos, base para explorar o parque, até essa outra parte do Nordeste goiano, 200 quilômetros distante.
Coronel Adailton argumentou, na audiência pública, que criar uma região turística incentivaria viagens para as duas áreas – as quais, enfatizou, ainda têm muito a crescer, uma vez que menos de 5% dos goianos conhecem o parque da Terra Ronca, a maior atração da região.
Mambaí fica a 512 quilômetros de Goiânia e 309 quilômetros de Brasília, mas essa distância não explica toda a escassez de turistas – a movimentada Alto Paraíso, principal base de exploração da Chapada, fica a uma distância não muito menor das capitais goiana, 426 quilômetros, e federal, 223 quilômetros.
“Turismo precisa de infraestrutura, emendas parlamentares e iniciativa privada”, sintetizou Alessandro Moreira, que tem destinado emendas parlamentares a Mambaí, na audiência. Ele elogiou os municípios locais por se articularem para desenvolver em conjunto o turismo.
O turismo em Goiás, segundo os indicadores mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segue em alta: na comparação dos resultados de abril de 2025 com os de abril de 2024, o volume de atividades turísticas cresceu 13,5% no estado.
O turismo de aventura também está em ascensão: a empresa de mídia norte-americana US News & World Report acaba de eleger o Brasil como o melhor país nesse ramo, que, além disso, cresce a taxas mais altas que as do turismo em geral.
Águas perenes das cachoeiras são atrativos
“Uma das vantagens das cachoeiras de Mambaí é a perenidade por causa de veredas que captam a água das chuvas e as liberam aos poucos na época de seca”, explica o presidente do Fórum Estadual de Turismo de Goiás e dono de agência turística local, Bruno Queiroz.
Uma das novas cachoeiras exploradas da região é a do Segredo, que fica a seis quilômetros do centro de Damianópolis, acessada por uma caminhada fácil de 800 metros, com 27 metros de altura. A entrada de uma caverna próxima à queda d’água ajuda a compor a paisagem.
A Cachoeira do Paraíso, por sua vez, fica a 15 quilômetros do centro de Damianópolis e é precedida de uma estrutura com redes, balanços de madeira e almoço com frango caipira. O percurso a pé é curto e com uma parte íngreme, mas não difícil. A cachoeira se ramifica em diversas quedas d’água e a piscina para banho, além de tranquila, tem uma jangada à disposição. O carbonato de cálcio, explica Bruno, dá à água sua tonalidade esverdeada.
Outro dos atrativos locais é o mirante da Serra Geral, ou do Pôr do Sol, na divisa de Mambaí com a Bahia, um poente límpido e silencioso com vista panorâmica para diversos municípios.
Na Lapa do Penhasco, em Buritinópolis, uma tirolesa de 305 metros de extensão corta um vale e atinge 44 km/h a 102 metros de altura. Dali se vê uma caverna com um poço para banho na entrada e acessível por uma caminhada íngreme de cerca de 15 minutos e dificuldade média.
A trilha do Poço Azul, outro dos atrativos locais mais buscados, leva na verdade a três poços com tonalidades variadas de azuis e verdes vívidos. Trata-se de uma caminhada de ao menos três horas ida e volta, considerada de moderada a pesada.
Também procurados pelos turistas são o lago e o Fervedouro do Léo, na Fazenda Rio Vermelho, a poucos minutos de carro do centro de Mambaí. A nascente do fervedouro tem tanta força que mantém boiando os banhistas que deitam por ali.
O caminho do Funil, por sua vez, é na maior parte plano e toma cerca de meia hora até a cachoeira homônima, percorrida com guias. Junto à caverna há uma volumosa queda d’água de 16 metros, ao lado da qual é armado um pêndulo para que o turista se balance.
Presidente do Conselho Municipal de Turismo e também dono de agência de turismo, Emílio Manoel Calvo guiou a reportagem da Agência de Notícias pelas atrações do Funil. Envolvido na catalogação das dezenas de grutas e cavernas locais, Emílio declarou, na audiência pública de junho, que a região “é um diamante a ser lapidado, um lugar de belezas cênicas incríveis”.
Mambaí e entorno também são famosos pela qualidade do pequi e do baru, vendidos em pastas, molhos e em conserva, em uma fazenda local especializada.
Com pouco mais de 500 leitos, Mambaí concentra infraestrutura
Mambaí, Damianópolis e Buritinópolis podem ser ideais para muitos ecoturistas porque, ao mesmo tempo em que não são lotadas (segundo a administração municipal mambaiense, a cidade recebe um total anual de 3 a 4 mil visitantes), têm um mínimo de infraestrutura.
Boa parte dessa infraestrutura se concentra em Mambaí, mas várias das principais atrações de Damianópolis e Buritinópolis ficam a menos de meia hora de carro dali.
Em Mambaí há cerca de 550 leitos de hospedagem, em parte constantemente ocupados por trabalhadores da vizinha Jaborandi, na Bahia, empregados no setor de agronegócio. Há também boas opções de alimentação, uma inclusive com cardápio bilíngue, e três agências de turismo.
A sinalização nas trilhas e nas estradas ainda é escassa, demandando guias para muitas atrações. As agências, de todo modo, têm preços mais baixos que os de destinos famosos e guias com amplo conhecimento da fascinante geologia da região, enriquecendo os passeios.
Além disso, são os guias que cuidam do turismo de aventura (tirolesa, pêndulo, rapel) e lideram os passeios pelas cavernas, que precisam de orientação, capacete e iluminação.
As estradas em si, por sua vez, embora de terra, na maioria dos casos, não diferem muito daquelas de outros destinos ecoturísticos, sendo até mesmo mais transitáveis, por exemplo, que as de acesso a algumas cachoeiras da movimentada Pirenópolis.
São estradas que, na época de seca, não apresentam muitos desafios, mas podem se tornar complicadas nas de chuva. Caminhonetes e veículos 4×4 permitem chegar mais próximo de algumas atrações, mas em vários casos não são necessários.
Isso se aplica, de todo modo, aos principais atrativos. Como ocorre em outros destinos de ecoturismo, cachoeiras e outros pontos de interesse em propriedades privadas abertos ao público, a qualidade das vias de acesso é variável.
Há maior necessidade de melhoria no caso das estradas que levam à região ou conectam seus municípios. O vereador Welinghton Pinheiro mencionou, na audiência pública, por exemplo, ser preciso recapear o trecho entre Mambaí a Sítio D’Abadia, um percurso de pouco menos de uma hora de carro que nos meses de chuva pode demandar o dobro do tempo.
Uma das obras mais esperadas na região é a pavimentação de 191 quilômetros entre Mambaí e Cocos, na Bahia, que reduzirá em mais de 200 quilômetros o percurso entre o Centro-Oeste e o litoral baiano. Há a expectativa, em especial, de que a melhoria da conexão de Brasília com a Bahia estimulará turistas da capital federal a visitarem Mambaí no retorno de destinos litorâneos.
Deputados requerem melhorias em estradas e prestigiam cultura local
A maioria dos requerimentos dos deputados estaduais em relação a Mambaí, Damianópolis e Buritinópolis trata justamente das estradas que percorrem o Nordeste goiano.
Alessandro Moreira solicitou a aprovação da federalização da GO-236, no trecho que sai da BR-020 e passa pelos municípios de Buritinópolis e Mambaí. A proposta passou a ser discutida entre os governos goiano e federal.
Moreira também pediu elaboração de projeto de pavimentação asfáltica da GO-108, no trecho entre o distrito Vila Nova, na divisa dos municípios de Mambaí e Buritinópolis, até a BR-020 em Posse, passando pelo distrito de Barbosilândia.
Dr. George Morais (PDT) requereu a pavimentação e a sinalização da GO-108 no trecho entre o povoado de Rodovilândia, em Posse, e Mambaí, bem como a revitalização da GO-108 no trecho entre Sítio d’Abadia e o povoado Vila Nova, bem como do trevo para Buritinópolis. O deputado também pediu que seja construída uma ponte de concreto em Damianópolis.
Antônio Gomide (PT), a seu turno, solicitou ampliação do número de ônibus intermunicipais no trajeto entre Damianópolis e toda a região, em especial para que a população acesse serviços essenciais, como saúde, educação e comércio.
Amilton Filho (MDB) requereu o recapeamento asfáltico da rodovia GO-236 no trecho que liga Buritinópolis a Simolândia, assim como a disponibilização de uma patrulha mecânica para manutenção das entradas rurais de Buritinópolis e o recapeamento das ruas do município.
Todos os requerimentos podem ser conhecidos em detalhes na seção Consulta Legislativa do site da Assembleia Legislativa digitando-se os municípios locais na pesquisa.
Tramita no Legislativo goiano também um projeto de lei, de Dr. George Morais, propondo que seja concedido a Damianópolis o título de Capital Estadual da Tradição Sertaneja, “reforçando o compromisso com a preservação e a promoção do Patrimônio Cultural Imaterial, incentivando o turismo e valorizando as raízes culturais da região” (processo no 24281/24).
Outro projeto da atual Legislatura relativo a Damianópolis foi o de Gustavo Sebba que inclui, no Calendário Cívico, Cultural e Turístico do Estado de Goiás, a Festa de Abril, realizada anualmente no município, que se tornou a Lei nº 22.283, de 19 de setembro de 2023.