Entre janeiro e abril deste ano, Goiás registrou 994 pessoas desaparecidas. O número, por dia, representa nove indivíduos, totalizando 248 goianos que não foram encontrados após terem “sumido”. Em todo o ano passado, conforme a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP), foram 3.355 registros deste tipo.
Entre os desaparecidos está a jovem trans Alícia Marques, de 18 anos. Moradora de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, ela foi vista pela última vez no dia 12 de fevereiro de 2022, em uma distribuidora de bebidas que fica próxima a casa onde mora com a mãe, no Jardim Helvécia.
Mesmo depois de um ano e cinco meses, a mãe de Alícia, Fabrícia Pereira, tem esperança de encontrar a filha com vida. A diarista conta que, a cada dia que passa sem ter notícias da filha, a dor e a saudade aumentam, assim como a expectativa de ver a jovem novamente.
“É isso que me manteve de pé todo esse tempo. Eu não vivo, sobrevivo. Todos os dias eu acordo e durmo sempre com o mesmo pensamento, se ela está bem, onde está e o que fizeram com a minha boneca. Sempre passei por muitas dificuldades, mas achei forças por conta dos meus filhos. Ela foi um presente maravilhoso”, disse.
Arquivamento do caso
O delegado Jonathas Barbosa, responsável pelo caso, pediu o arquivamento do inquérito no dia 26 de janeiro deste ano, pouco antes do desaparecimento completar um ano. Ele defendeu que a investigação havia chegado em um “impasse” e que o caso deveria ser arquivado “até que surjam novas informações”. O caso anteriormente era investigado pela delegada Luiza Veneranda, do 1º DP de Aparecida de Goiânia.
O inquérito, de 340 páginas, foi enviado para o Ministério Público de Goiás (MPGO). O órgão irá dar um parecer sobre se concorda ou não com o arquivamento. As investigações para encontrar Alícia começaram ainda no mês de fevereiro do ano passado.
Processo de identificação
A coordenadora de desaparecidos da Superintendência de Identificação Humana da Polícia Civil, Simone de Jesus, explica que o reconhecimento de um corpo, que pode ser de uma pessoa desaparecida, é feito, primeiramente, por meio das impressões digitais do cadáver que são recolhidas no Instituto Médico Legal (IML).
Com os dados em mãos, os peritos fazem uma busca no banco de digitais para fazer uma comparação. Se confirmada a identidade do cadáver, a superintendência, então, entra em contato com os familiares do indivíduo.
“Se não for encontrada a digital, é recolhido material genético para que seja feita uma busca no banco nacional de perfil genético. Se caso um familiar desta vítima tenha doado material genético, então, é possível fazer essa identificação. Em algumas situações também é feita a identificação pelo material odontológico, caso a família tenha documentação odontologica”, disse.
O processo de identificação pode levar horas ou dias, a depender do estado de conservação em que o corpo for encontrado e a situação da família em relação a documentação.
“Não é liberado nenhum corpo por reconhecimento, ele pode servir para facilitar a identificação do cadáver. Além disso, a partir da identificação é que se inicia o processo de investigação de um crime. Não tem como descobrir a motivação de um crime sem ter reconhecido a vítima primeiro”, afirmou.
Fonte: Jornal Opção