InícioNotíciasFalta de insumos afeta plantio de grãos em Goiás

Falta de insumos afeta plantio de grãos em Goiás

A boa evolução do plantio da próxima safrinha de milho em Goiás está ameaçada por dificuldades para entrega dos principais insumos agrícolas utilizados nas lavouras do grão. Produtores rurais têm relatado atrasos e até cancelamentos de contratos e de pedidos de compra de fertilizantes e defensivos, como os herbicidas glifosato, um dos mais utilizados no planeta, e atrazina, essencial no plantio do milho. O problema pode comprometer o cronograma das lavouras, elevar os custos de produção e até reduzir a produtividade das lavouras.

O agricultor Marcos Antônio Tizzo Ribeiro, que produz soja, milho e sorgo nos municípios de Rio Verde, Santa Helena e Cezarina, conta que seu maior problema são os constantes atrasos na entrega de defensivos. “Ainda não recebi alguns que comprei ainda em abril do ano passado e sei que nem conseguirei receber para esta safra”, acredita. A saída, segundo ele, será usar o que tem, pois algumas empresas ainda estão substituindo produtos pedidos por outros na entrega.

“Quando eles não cumprem o acordado, temos que ir ao mercado procurar o insumo, mas não estamos conseguindo achar”, destaca.

Outro atraso está ocorrendo na entrega de sementes de milho. O produtor lembra que isso está retardando o plantio e obriga alterar todo planejamento junto ao banco que financiou a produção para não ter problemas com o seguro agrícola depois. “Tem sido um transtorno muito grande porque a informação sobre a falta do insumo chega para nós apenas uma semana antes da data programada para o plantio.”

Para o produtor Adriano Barzotto, também diretor da Associação dos Produtores de Soja, Milho e Outros Grãos Agrícolas do Estado (Aprosoja Goiás), a entrega de insumos está totalmente irregular. “Hoje, eles entregam como querem, e não da forma como o produtor precisa”, diz. Segundo ele, há problemas para entrega do secante diquat, usado para o término do ciclo da soja, e de glifosato e atrazina, utilizados para o início do ciclo do milho.

Em alguns casos, Adriano informa que as empresas chegam a cancelar pedidos feitos anteriormente e fazer novos pedidos com valores reajustados. Com isso, outro problema relatado é a alta abusiva de preços. “Tivemos aumentos sem lógica comercial, de produtos que passaram de US$ 3 para US$ 6 e ainda sem garantia de entrega”, ressalta o produtor.

Ele dá o exemplo dos fertilizantes nitrogenados, produzidos a partir de gás natural e essenciais para a safra de milho, que ficaram bem mais caros nos últimos meses por conta do aumento da demanda pelo combustível no mundo.

Muitos agricultores fazem os pedidos de compra para pagamento com a safra e, agora, estão à mercê da boa vontade das empresas. “Você fica tranquilo, achando que o pedido está feito e garantido, quando, na verdade, ele foi cancelado”, conta Adriano. Ele lembra que os atrasos preocupam porque, após o plantio, é preciso seguir todo um cronograma de tratos culturais em datas preestabelecidas.

Para o presidente da Comissão de Grãos, Fibras e Oleagenosas da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), Ênio Fernandes, o maior problema agora é a falta do dessecante para a soja. “Como não podemos mais usar o paraquat no Brasil, hoje temos que usar o diquat. Só que a indústria não se preparou e o produto está em falta no mercado. Sem ele, não consigo dessecar a soja para acelerar seu ciclo e ocorre o atraso no plantio da safrinha”, explica.

Outro problema, segundo ele, é a dificuldade de encontrar o glifosato, usado no controle de ervas daninhas na cultura do milho. “Outros produtos nós conseguimos substituir. Mas estes dois não. Por isso, a lei da oferta e procura impera e os preços subiram muito”, adverte.

Maior custo de produção

Estes problemas devem se refletir num maior custo de produção. O produtor Marcos Tizzo lembra que, às vezes, precisa se contentar com um produto cuja eficácia se desconhece e que pode não ter o resultado esperado em termos de eficiência e produtividade. “A consequência pode ser a necessidade de uma maior aplicação de defensivos, o que deixaria o custo bem mais alto”, alerta.

Outro impacto financeiro importante seria a queda na produtividade da lavoura, ou seja, uma colheita abaixo do esperado.

Ele lembra que o produtor já planta a soja planejando a safrinha e faz compras antecipadas justamente para evitar problemas que possam ameaçar a qualidade e o volume de sua produção. “Estes atrasos prejudicam todo planejamento, desde a escolha das cultivares, passando pela aplicação de defensivos, até a garantia do seguro agrícola junto ao banco”, ressalta.

O coordenador institucional do Instituto para Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado, lembra que os atrasos começaram ainda na entrega dos dessecantes para a colheita da soja. Agora, ele acredita que se a demora persistir na safrinha o produtor terá que buscar outras opções de insumos até mais caros no mercado, o que elevará o custo de produção.

“Se não conseguir um produto semelhante, o agricultor pode não conseguir fazer o controle no tempo certo e ter problemas com a produtividade, que aumentou nos últimos anos.”

Uma das maiores preocupações é com a entrega do herbicida atrazina, para o controle de ervas daninhas. Com o crescimento da área plantada, a expectativa era de aumento da safrinha de milho, cultura em que Goiás se destaca como um dos maiores produtores do País.

Problema pode atingir cadeia do agronegócio

A Associação dos Produtores de Soja, Milho e Outros Grãos Agrícolas (Aprosoja) alertou, no início da safra 2021-2022, que a falta ou não aplicação de insumos no momento adequado do plantio de soja e milho pode comprometer a produção, reduzindo o volume e a qualidade dos grãos.

A agrônoma Daniela Rezio, diretora administrativa e conselheira do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-GO) e gerente da Agrodefesa, explica que os problemas com a disponibilidade de insumos provocam atrasos da semeadura à colheita, além de prejudicarem o cumprimento de medidas legislativas para prevenção e controle de pragas e doenças.

“Isso pode elevar o custo de produção e afetar a economia agrícola do Estado”, alerta agrônoma. Segundo ela, o cronograma da lavoura pode ser comprometido, afetando o ciclo do plantio. O reflexo chegará ao mercado se houver atraso na comercialização dos grãos, afetando todos os envolvidos na cadeia do agronegócio. “Isso atrasa os tratos culturais, o controle para prevenção de pragas e, por fim, compromete o mercado financeiro do agronegócio.”

Para o produtor Adriano Barzotto, diretor da Aprosoja, a preocupação é que empresas estejam segurando produtos para ganhar em cima da dificuldade da cadeia de suprimentos do agronegócio, que enfrenta problemas no mundo todo”. Além das dificuldades de abastecimento provocadas pela pandemia, hoje há uma falta de navios por conta de uma mudança na legislação ambiental sobre emissão de CO2, que tirou vários cargueiros de operação e dificultou ainda mais o transporte de matérias-primas vindas da Ásia.

A reportagem procurou a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), mas não obteve resposta.

Fonte e texto: O Popular

POSTAGENS RELACIONADAS
- PUBLICIDADE -
- PUBLICIDADE -

MAIS LIDAS DA SEMANA