A história do Parque Estadual de Terra Ronca, em São Domingos, no nordeste goiano, se confunde com a trajetória de vida do guia de turismo Ramiro Hilário dos Santos, nascido em 1958 na própria região das grutas. Considerado um verdadeiro guardião do parque, Ramiro cresceu imerso na natureza e no modo de vida simples do cerrado, em uma área marcada pela relação íntima com a terra e com as tradições religiosas do interior.
Filho de migrantes baianos oriundos de Correntina e São Desidério, Ramiro herdou da família o amor pela terra e a preocupação com a preservação ambiental. Sua atuação tem sido fundamental para o reconhecimento cultural e ecológico da região, hoje protegida por lei como Parque Estadual de Terra Ronca — um dos maiores complexos de cavernas da América Latina.
Embora a Gruta de Terra Ronca já fosse conhecida há mais de um século, segundo Ramiro, foi apenas nas últimas décadas que o local passou a ser efetivamente explorado. “As pessoas só começaram a entrar na gruta de fato depois de muito tempo. Antes, era uma região quase sagrada, respeitada de longe”, conta.
A religiosidade, aliás, também tem papel essencial nessa história. Por volta de 1920, fiéis da região costumavam caminhar até a cidade de Lapa, na Bahia, para cumprir promessas religiosas. Com o objetivo de evitar as longas viagens, o pai de Ramiro tomou uma iniciativa que mudou a dinâmica espiritual do lugar: convidou um padre de São Domingos para celebrar missas dentro da própria gruta. A partir disso, nasceu a tradicional Festa de Terra Ronca, realizada todos os anos na primeira semana de agosto, reunindo centenas de pessoas para missas, batizados e casamentos no coração da caverna.
A atuação de Ramiro vai além do turismo. Ele é uma referência local na preservação do patrimônio natural e cultural da região, mantendo viva a memória de práticas tradicionais e o respeito pelo meio ambiente. Sua história é também a história da resistência de um povo que viu na fé e na natureza motivos para se manter conectado às suas raízes.
Hoje, Ramiro segue conduzindo visitantes pelos salões majestosos da gruta, contando histórias que misturam ciência, religiosidade e memória afetiva. Mais do que um guia, ele é um símbolo de pertencimento e proteção à riqueza natural do cerrado goiano.
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