O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) iniciou um processo para avaliar a criação de uma unidade de conservação federal na área onde estão localizadas as chamadas chaminés de fada, em Campos Belos, no Nordeste Goiano. A autarquia, ligada ao Ministério do Meio Ambiente, estuda transformar o local em uma área de proteção ambiental devido à singularidade geológica e fragilidade das formações.
O geógrafo Estevão Vieira Tanajura Carvalho, analista ambiental do ICMBio em Goiás, visitou o local e destacou a importância da preservação. “O turismo desordenado pode danificar de forma permanente essas estruturas únicas”, alertou. Segundo ele, o relatório inicial do órgão apontou viabilidade para a criação de uma unidade, mas o processo ainda está em fase preliminar.
“É muito cedo para definir qual tipo de unidade poderá ser criada e como seria a gestão — se federal ou compartilhada com os proprietários da fazenda”, explicou Estevão. Ele reforçou que o trabalho passará por análises internas, consulta pública e estudos complementares da UFG, responsáveis por pesquisas científicas no local.
As professoras Joana Sánchez e Fernanda Canile, da Universidade Federal de Goiás (UFG), lideram o estudo que resultará no primeiro registro científico oficial sobre as chaminés. A publicação de uma nota técnica em revista especializada está prevista para os próximos dois meses.
Segundo Joana, não há registro semelhante no país. “A formação encontrada em Campos Belos é única, com centenas de chaminés que chegam a três metros de altura. As maiores podem ter levado até 500 anos para atingir o formato atual”, afirmou. A professora alerta que a principal preocupação é a preservação das menores, mais frágeis e suscetíveis à erosão.
Ela também destaca a importância de se evitar o acesso livre. “Antes de abrir para visitação, é preciso planejar e definir onde se pode andar. Qualquer toque pode danificar uma rocha que levou séculos para se formar”, reforçou.
O biólogo Arthur Bispo de Oliveira, da UFG, identificou na região espécies raras de aves, como araras-azuis-grandes e águas-cinzentas, além da passagem de onças-pintadas e antas. Para ele, o espaço tem potencial para o turismo de observação e educação ambiental, desde que de baixo impacto.
“É uma área com biodiversidade importante e grande potencial de gerar conhecimento científico aliado ao turismo consciente”, avaliou.
A descoberta das chaminés ganhou repercussão nacional após reportagem publicada pela Folha de S.Paulo em setembro, o que levou o local a viralizar nas redes sociais. Desde então, a família proprietária da fazenda, liderada por Domingos Ferreira da Silva e seu filho, o vereador Rodrigo Ferreira, tem recebido inúmeros pedidos de visita e parcerias turísticas.
“Ninguém foi treinado ainda para cuidar desse patrimônio. Qualquer toque pode derrubar uma estrutura”, disse Rodrigo.
O ordenamento ambiental, em elaboração pela UFG com apoio do ICMBio, prevê duas etapas. A primeira deve incluir trilhas restritas e guiadas, sem acesso às maiores formações. Em uma segunda fase, com mais recursos, estão previstos passarelas suspensas e pontos de observação para visitação segura.
Enquanto isso, a área segue fechada ao público, aguardando os pareceres técnicos e as medidas de proteção que vão garantir que as chaminés de fada — uma das formações mais raras do país — permaneçam preservadas.