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Nei Castelli nega todas as acusações e diz não saber quem mandou matar os advogados assassinados em Goiânia

Após um dia inteiro em que 12 testemunhas e dois réus foram ouvidos diante de sete jurados e um auditório lotado no Fórum Cível de Goiânia, na última terça-feira (30), o júri do caso dos advogados Marcus Aprígio Chaves, de 41 anos, e Frank Alessandro Carvalhaes, de 47, mortos a tiros em outubro de 2020, na capital, entrou em seu segundo e provável último dia nesta quarta-feira (31).

O julgamento começou com a oitiva do réu que faltava, o fazendeiro Nei Castelli – apontado pelo Ministério Público como mandante do crime -, e passou, ainda de manhã, para o embate entre defesa e acusação para provar, ou não, a culpa dos acusados.

A fala de Castelli durou menos de meia hora. O réu, que chegou vestindo uniforme prisional e trocou de roupa dentro sala dos réus, sentou-se frente a frente com o juiz que conduz a sessão, Eduardo Pio Mascarenhas, por volta de 8h45 e respondeu as poucas perguntas feitas pela sua defesa e pela acusação.

Como fez no primeiro interrogatório ao qual foi submetido após a prisão, ocorrida em novembro de 2020, o fazendeiro negou ter mandado matar os advogados e disse que só os conhecia “de ouvir falar”. “Não tenho nada a ver com isso aí”, afirmou.

Uma das perguntas feitas a Castelli se referiu à presença dele – confirmada pela localização do celular – próxima a Porto Nacional, no Tocantins, no dia em que ele teria se reunido com Cosme Lompa (também réu pelo homicídio de Marcus Aprígio e Frank Cavalhaes) e Pedro Henrique Soares, o atirador já condenado pelo crime, dias antes dos advogados serem assassinados.

O fazendeiro respondeu que esteve em uma cidade próxima a Porto Nacional, junto com o filho, pois tinha a intenção de ir a um calcário da região e, também, olhar um caminhão para comprar. No entanto, os membros do MP chamaram a atenção dos jurados de que esse mesmo motivo alegado no júri desta quarta sequer foi mencionado por Castelli no primeiro interrogatório. “Por que não foi trazido isso até agora?”, questionou o promotor Geibson Cândido.

Castelli também confessou já ter se encontrado com Lompa em outro dia, mas que Pedro Henrique não estava presente. “Se ele apareceu lá, não vi”, disse o réu.

A acusação também destacou a renda mensal informada por Nei Castelli no primeiro interrogatório, de R$ 250 mil, e a informada no júri, de mais de R$ 1 milhão. Para a acusação, o objetivo do réu seria levar o júri a acreditar que sua renda era alta e que ele não teria motivos para mandar matar por dinheiro.

Vale destacar que crime teria sido motivado por uma ação ganha pelos advogados relacionada a terras, na divisa de Goiás e Bahia, avaliadas em R$ 46 milhões e que geraria honorários sucumbenciais de R$ 4,6 milhões para a dupla de advogados.

O elo do crime

Para o MP, a peça-chave que provaria o envolvimento de Nei Castelli no duplo homicídio é o empresário Cosme Lompa. Conforme os acusadores, Lompa confessou ter se reunido com Castelli, que teria pedido a indicação de alguém para “cobrar uma dívida” para ele. Segundo os promotores, isso seria um código para a contratação de um matador.

A acusação relata que Lompa indicou o nome de Pedro Henrique, que já era conhecido em Porto Nacional por ser um pistoleiro. Durante sua prisão, o rapaz chegou a confessar informalmente aos policiais que já matou 12 pessoas. Ele foi preso pouco depois do crime, enquanto seu comparsa, Jaberson Gomes, morreu em um confronto com a Polícia Militar do Tocantins.

No entanto, a defesa rebateu as alegações da acusação e tentou mostrar aos jurados que Lompa apenas “confessou” por ter sido alvo de agressões. De acordo com Weyvel Zanelli, advogado do empresário, ficou “claro e evidente que a polícia utilizou de meios ilícitos na condução da investigação”.

O defensor chamou atenção para o fato, por exemplo, do decreto de prisão de Lompa ter sido expedido às 19h29 de 9 de novembro de 2020, e a prisão ter sido cumprida – conforme aponta o documento – um minuto e 12 segundos depois. Ainda conforme Zanelli, ao encontrar o cliente após a prisão, ao contrário do que constou no laudo que afirmou que Lompa não tinha lesões aparentes, verificou que ele tinha diversos machucados. Entre eles, olho roxo e dente quebrado.

O fato, segundo ele, o levou a requerer um novo exame de corpo de delito que só ficou pronto duas semanas depois e, novamente, não apontou lesões por, segundo Zanelli, ter sido feito muito tempo depois e “à vista desarmada”, isto é, sem análise minuciosa.

Agiotagem

Uma das linhas adotadas pela defesa para afastar a autoria do crime de Nei Castelli é que Marcus Aprígio teria divergências com um agiota. A defesa chegou a apresentar aos jurados uma conversa entre o advogado e o suposto agiota.

No entanto, a hipótese foi rebatida pela acusação. Segundo o promotor Geibson Cândido, a tese não faz sentido, uma vez que Aprígio tinha bom patrimônio. Para Cândido, seria incoerente um agiota mandar matar o advogado, já que, com isso, ele não receberia a dívida.

Conforme apurado, o júri deve se estender até o final da noite desta quarta-feira (31).

O que dizem as defesas dos réus

Em nota enviada na manhã desta quarta-feira (31), a defesa de Nei Castelli declarou que “os erros ocorridos durante a fase de investigação prejudicaram a condução de todo o processo”.

“A polícia afirmou, em júri, que a extração de dados do celular do Marcus não foi analisada antes do pedido das prisões dos acusados. Isso é uma falha grave na investigação. O que nos desperta surpresa é que foram designados mais 50 policiais, uma força-tarefa composta por cinco delegados e os telefones não foram tratados como prova contundente. A celeridade imposta à investigação para que um culpado fosse apontado de imediato, deixou de fora do processo informações extremamente relevantes para inocentar meu cliente”, afirmou Renato Armiliato Dias.

A reportagem tenta falar com os advogados de Hélica Ribeiro e Cosme Lompa. O espaço permanece aberto.

Fonte: G1

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