A Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon) define esta semana, com maior precisão, o tamanho, a trajetória e a área de dispersão do objeto luminoso que foi visto no sábado (9) cruzando o céu de vários municípios goianos. O fenômeno chamou a atenção pelo brilho intenso que provocou, deixando dúvidas sobre sua origem e possíveis fragmentos em solo. Com as informações que já recebeu, a Bramon estima se tratar de um asteroide por ter mais de um metro de comprimento e mais de um quilo, foi visto a 90 km de altitude e tinha uma velocidade em torno de 16 a 40 km por segundo.
Sérgio Mazzi, que preside a Bramon, uma rede colaborativa de estações de monitoramento que produz e fornece dados à comunidade científica, disse ao POPULAR que o meteoro foi visto numa grande área de Goiás porque estava numa altitude estimada em torno de 90 km, chegando a 35 km no fim. Houve avistamento de moradores da região metropolitana de Goiânia, Anápolis, São Luís de Montes Belos e até de Niquelândia, no norte do estado, entre outros. Mas, segundo Sérgio, as análises preliminares das 15 estações em território goiano indicam que seu clarão foi observado até na divisa com Minas Gerais. As estações do Distrito Federal ligadas à Bramon não registraram a passagem do meteoro porque a região estava nublada na noite de sábado.
“Como foi um evento muito brilhante, alguns veículos de comunicação usaram imagens de meteoros de outras épocas, gerando uma confusão no público. Tem um grupo de trabalho analisando todo esse material”, esclarece o presidente da Bramon. Um dos registros mais impressionantes no sábado foi feito por Sarah Lauck, astrônoma amadora, que estava em Aparecida de Goiânia (Leia mais nesta página). Ary Martins Magalhães Junior, diretor da instituição astronômica Plêiades do Sul, baseada em Goiânia e colaborativa da Bramon, lembra que meteoros são ocorrências comuns, mas é raro um com tanto brilho como o que foi visto no fim de semana. “Mais raro ainda é conseguir filmá-lo e com boas imagens.”
Ary Martins detalha que na astronomia há três nomenclaturas para o fenômeno que impressionou os goianos no sábado. Quando o objeto ainda está no espaço, ele é chamado de meteoroide; quando cruza a atmosfera e gera o rastro de luz, chama-se meteoro; caso seus fragmentos fiquem no solo, tornam-se meteoritos. No caso do último fenômeno, ainda não dá para saber se restaram fragmentos e onde eles teriam caído. “Muito provavelmente, há”, acredita o presidente da Bramon, Sérgio Mazzi. “Mas, precisamos estimar a área de dispersão para avisar aos pesquisadores.”
Os astrônomos relatam que o material é resquício da formação do sistema solar. “Ele fica em órbita e uma hora acaba encontrando a Terra. Quando conseguimos rastrear e localizar seus fragmentos no solo é espetacular para a ciência. Alguns meteoritos são raros e valiosos para os pesquisadores”, explica Sérgio Mazzi. Os fragmentos podem ser ferrosos, que geralmente sobrevivem melhor ao entrar na atmosfera, ou de origem carbonácea, que é mais raro e contém materiais prebióticos, moléculas de carbono. “Elas são fundamentais para a origem da vida. Muito do que existe na terra foi trazido do espaço por cometas e meteoritos”, afirma o presidente da Bramon.
Ary Martins salienta que, embora seja um dos fenômenos mais impactantes da natureza, meteoros são comuns, são as chamadas estrelas cadentes. “Se uma pessoa passar a madrugada toda olhando para o céu, pode ver até 30 dessas estrelas”. Embora a Bramon acredite que o objeto visto em Goiás seja natural, lixo espacial também pode provocar processo semelhante quando entra na atmosfera. “Temos pedaços de satélite orbitando a terra desde 1957 e, quando entra, tem um aquecimento como o meteoro, embora com característica visual distinta. É comum as pessoas acharem que se trata algo de outro planeta. Muita coisa da astronomia gera confusão”, afirma o diretor da Plêiades do Sul. O meteoroide que cruzou a atmosfera no sábado e foi visto em Goiás é um asteroide porque esta é a denominação que se dá a meteoros com mais de um metro de comprimento.
Juntos também no amor à astronomia
O músico Daniel Basile é um apaixonado pela astronomia desde criança. Na maior parte dos 33 anos de vida esteve de olho no céu. Já adulto, fez cursos específicos e viagens para observações. Seu batismo oficial como astrônomo amador se deu em julho de 2020 quando tentava registrar a passagem de aviões no por do sol de Goiânia. “Eu estava no terraço da casa do meu pai, no Setor Sul e consegui filmar um meteoro, embora tenha sido rápido, apenas sete segundos. Mas, por ser de dia, o brilho dele mostrou que era muito grande. E ainda teve o traço fino da lua”, detalha.
A façanha de Daniel chamou a atenção da cena astronômica brasileira. Seu vídeo percorreu o mundo e ele passou a integrar oficialmente a Plêiades do Sul e, por consequência, a Bramon. Registrar um meteoro ainda com luz solar não é para qualquer um. Ele conta que não sabe se aquele meteoro deixou fragmentos porque foi visto em pontos distantes do País, como também em Minas Gerais e na Bahia. Desde então, Daniel passou a olhar ainda mais para cima.
E foi num desses momentos que ele visualizou o meteoro de sábado (9). Daniel estava com a namorada, a farmacêutica Sarah Lauck, no aniversário do afilhado em Aparecida de Goiânia, perto do polo industrial. A convivência com Daniel fez de Sarah também uma apaixonada pela astronomia, fato que não a fez perder tempo quando ele, que estava observando a lua, engasgou de repente e só conseguiu gesticular para que ela olhasse o céu. “Era exatamente 22h16. Vi o meteoro entrando e fiquei abismado. Como estava bebendo, me engasguei, mas consegui acenar e ela ficou assustada, mas entendeu e foi rápida. Pegou o celular e filmou o meteoro da metade para o fim.” O vídeo é o registro mais importante que está sob análise da Bramon.
Fonte: O Popular